top of page

TEXTOS

por Marcio Harum

CRIS BASILE

A nossa pele é o que fica entre nós e o mundo

 

 

        O trabalho da artista Cris Basile não se atém às diversas superfícies de suas escolhas. A inspiração em suas obras tem como base a observação de linhas tracejantes na composição de mundos. Como marcas na pele cobrindo extensões naturais, reequilibra espaços com matérias, cores e formas. Gestos da pintura a óleo preenchem e esvaziam campos em que a leveza e a liberdade são a tônica constante de sua fruição. A artista apresenta em suas pinturas contornos e silhuetas que se aproximam à presumíveis signos de feminilidade.

 

        Com formação em artes visuais e psicologia, e por isso mesmo, talvez, a arte tenha se tornado uma condição tão específica ao convocar Cris Basile a não apenas pensar por si, mas a reposicionar-se constantemente diante de sua própria trajetória profissional de sensibilização estética e subjetiva. 

 

        Através de um olhar de estranhamento acerca da beleza da vida, Cris Basile expressa-se por uma necessidade interior de satisfação por meio de suas realizações como pintora. Interessa à artista a troca, sem uma busca por validação, seja lá qual for a maneira de aceitação. Enxerga-se em sociedade, e esta dimensão coletiva propicia contato direto com códigos contemporâneos que lhe atraem como força magnética. Ao longo de uma atividade dialógica de acompanhamento crítico em 2020, Basile acercou-se de um pensamento da artista estadounidense Barbara Kruger (1945), no qual cita que fazer arte é materializar sua experiência e percepção, transformando o fluxo em alguma coisa visual, textual ou musical, para criar um tipo de comentário.

 

        Nos anos mais recentes, Cris Basile vem apresentando uma produção estável de óleos sobre tela. Destacam-se as profícuas séries Sagrado de 2014, Santa Rita de 2015-16, Compaixão de 2019 e Humano de 2019.

​

        Durante o primeiro ano pandêmico, exibiu junto ao projeto Acervo Rotativo a proposição Pintura na Caixinha - Desculpa, Sobrevivi e Empatia, com diminutas pinturas e pirografia em folha de madeira dentro de três caixas acrílicas. E terminou mais uma série, chamada de Pandemia 2020,  com 89 lâminas sob a técnica da fitotipia e caneta esferográfica em papel fotográfico.

 

        Em 2020 desenvolveu também outras duas séries - Pandemia e Crise, esta última pintada a óleo diretamente sobre folhas de madeira. A crueza e a luminosidade do material orgânico que recebe as camadas de tinta faz remeter a uma catalogação botânica com bulbos de flores exóticas, frutos desconhecidos e raízes comestíveis. Vemos aí um contraste instigante como ponto de vista em Pandemia: formas derretidas com grandes tufos de flores, folhagens e bolhas surgem em tons encarnados, como se revolvidas em sonho por lufadas de ar no vazio de precipícios na escuridão do fundo das telas.

​

        Pelo avistado no ano que se inicia, a pesquisa artística de Cris Basile segue por um caminho a ser percebida como um exercício pictórico na estufa do futuro.  

 

Marcio Harum

Fevereiro de 2021

por Rubens Pontes

CRIS BASILE

Únicos Variaveis

​

A proposta se forma pela cobertura de uma determinada área de parede com folhas de madeira natural reflorestada. As lâminas de madeira são dispostas lado a lado, deixando espaços vazios ou sobrepondo umas às outras, determinando um volume na superfície. Algumas folhas são deixadas ao natural e outras sofrem a intervenção do pirógrafo*, formando desenhos e abrindo rasgos que buscam diálogos em sua natureza. A naturalidade dos seus veios e a indução dos gestos são os elementos, as linhas que as compõem, como marcas, traços na superfície da pele que cobre o corpo, como também recobre a pele humana em comum diálogo com as coisas da natureza. A sobreposição das lâminas é como a pele ganhando vida entre linhas e espaços e que lembram cascas de árvores, desenhadas com fogo pela ferramenta de desenho eleita, que queima e endurece a matéria quente e pulsante que já foi uma árvore. Estes elementos juntos, que conduzem e dão forma ao trabalho, compõem uma espécie de trajetos do mundo.

* Aparelho elétrico em forma de caneta com ponta de metal, serve para gravar através do calor.

​

Rubens Pontes, Artista Plástico e Professor

Junho de 2021

por Fábio Serodio

CRIS BASILE

​

​

O trabalho da artista retratado em pirografo, é inspirado na natureza ou imagens de lugares sagrados. Demonstra uma visão singular de formas e conceitos, ressaltando detalhes que só um atento observador seria capaz de destacar nessas imagens. Na composição do trabalho, as garatujas, dão formatos impressionantes nas figuras retratadas. Entre espaços vazios e excessos, a artista constrói uma imagem abstrata que leva o observador a compor interpretações diferentes de uma mesma figura.

Em folhas de madeira, as figuras ganham vida entre as linhas pirografadas, tintas e espaços vazios. Muitas vezes, uma simples linha traçada na folha de madeira é capaz de criar uma metamorfose, dando ao observador uma dimensão especial e a construção de uma imagem própria. Essa característica, inclui o observador na construção do trabalho artístico. Possibilitando diversas interpretações nas imagens gravadas na folha de madeira.

Uma característica própria da artista merece ser destacada. A intensidade de sua criação, muitas vezes, parte de um traço ou de uma sequência disforme e acaba compondo imagens com várias interpretações. De um simples risco, surge um trabalho que possibilita inúmeras composições.

Cada pessoa associa a imagem criada às suas experiencias sensitivas. Não há no trabalho uma verdade exposta. São traços que conduzem as pessoas a diversos caminhos ou entendimentos.

Chama a atenção as diversas formas em que a artista expõe essa criatividade. Em tela, em folhas de madeira, em papel ou qualquer superfície, os trabalhos ganham vida e dimensões diferentes. Espaços vazios, cores e formas dão ao interlocutor a sensação de uma trama viva.

 

Fabio Serodio, Jornalista

outubro de 2020

bottom of page